Bondadismo

Este artigo examina criticamente a noção “bondadismo” no campo político contemporâneo, diferenciando-a de seu uso pejorativo por parte das direitas emergentes. A partir de uma leitura crítica, argumenta-se que tanto o bondadismo como as novas direitas participam de uma mesma estrutura de moralização do espaço político, em que o antagonismo social se reduz a uma confrontação entre formas rivais de virtude ou autenticidade. É analisado o modo como o bondadismo constrói sujeitos subalternizados cristalizados como figuras moralmente incontestáveis, o que contribui a esvaziar a política de seu potencial disruptivo e reforçar regimes de reconhecimento administrados desde o Estado. Além disso, examina-se como as direitas emergentes constroem sua identidade política a partir da desqualificação dessas figuras do bondadismo, sem por isso sair do marco de moralização e estetização da política que ambos os extremos partilham. O artigo propõe, em síntese, a necessidade de recuperar uma imaginação política que dispute as condições de possibilidade impostas por esses regimes morais.