Salvadores de salvadores: o humanitarismo como ferramenta para um modelo de desenvolvimento suportado na diferença

Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre o setor humanitário a partir de experiências laborais em contextos de intervenção na Colômbia. Desde uma perspectiva situada, o texto desmonta a lógica bondadista que transpassa o humanitarismo contemporâneo, evidenciando como reproduz, de maneira sistemática, relações de poder baseadas no racismo, no sexismo, no classismo e no colonialismo. É analisada a maneira como os princípios humanitários – imparcialidade, neutralidade, independência e humanidade – operam como dispositivos que ocultam práticas de discriminação, indiferença e hipocrisia, legitimando um modelo de gestão das diferenças que garante a perpetuação das desigualdades estruturais. Por meio de uma revisão crítica do sistema de classificação (sexo/gênero, pertença étnica) e das noções de perspectiva diferencial e interseccionalidade no humanitarismo, propõe-se que esse setor não procura transformar as condições de opressão, mas que precisa sustentá-las para garantir sua existência e expansão. O artigo conclui com um convite para repensar as formas de solidariedade e ação social para além do dispositivo salvador que caracteriza o humanitarismo global.